“Mercadocracia, bastião de fantasia”

A ética não existe. Perdeu o seu significado. Não tem valor de mercado, logo não existe.

O FLAN é um coletivo artístico português que comunica, de forma burlesca e até mesmo satírica, mensagens de consciencialização social. Não sendo de todo apolítico, o FLAN também não defende qualquer tipo de ideologia política ou religião em particular, mas sim uma forma pitoresca de liberdade de expressão que procura pensar, decidir, comunicar e atuar de forma livre, sem se sentir ameaçado ou condicionado por valores e tradições.

 

A Embaixada do Coletivo FLAN, de 15 a 19 de outubro na Sala da Nação – Embaixada de Terra Nenhuma, quis provocar, sem limites e sem censuras, através de uma série de intervenções imprevisíveis, interativas, surpreendentes, que evoluiram ao longo dos dias.

Mercadocracia, bastião de fantasia.

Abrem-se as janelas e as tímidas palavras de ordem, afrouxadas pelo medo da bastonada, insistem em não nos entrar pela casa adentro. Liga-se a televisão e o histerismo adolescente da omnipresente Wall Street global toma de assalto toda a esfera existencial. Afinal, ja nao é o povo quem mais ordena.

Lentamente, o silêncio da abnegada abstenção foi substituído pela eloquência da taxa de juro sobre a dívida e a exigência de mais sacrifícios. Mercado Ex Machina: nomeação de governos, execução de orçamentos, promologação de leis, tudo agora é feito tendo em vista pacificar os instáveis espíritos dos pobres especuladores e empreendedores, esses que tanto têm a perder mas ainda mais a ganhar.

O inevitável foxtrote que acompanha a agonia dos gritos mudos, sempre agónicos, sempre atormentados dos simplórios esfomeados que mantêm a engrenagem a funcionar em movimentos longos e contínuos sem nunca se questionarem da verdadeira finalidade destes trituradores implacáveis é também um forte indicador da facilidade com que todos estes humanoídes se prestam à manipulação e ao condicionamento num modelo sempre perpétuo sempre actual.

A permissividade e a alienação é uma constante nestes subumanos, o que permite que se apliquem mutações neo-mórficas, mudando assim o produto gênico de forma a que este ganhe uma nova função visando apenas e só o retorno positivo do investimento.

A ética não existe. Perdeu o seu significado. Não tem valor de mercado, logo não existe.

Tudo o que interessa são números, são uns nadas, não se podem tocar, beber ou comer. São mentiras modernas. As novas verdades. Como se calcula o índice do que sente o povo? Será que já não acreditamos em nós proprios?

Que deus é esse que nos manda fazer sacrificios?

Eles têm explicações para tudo, nós não gostamos ,mas é para o nosso bem. Até já deixámos de sair á rua. Quando começou o marasmo?

Quando é que nos deixámos cair na armadilha e aceitámos negociar a nossa soberania por uma ilusão de bem estar material efémero? É difícil discernir estes momentos quando o revisionismo histórico se encarrega de distorcer o passado de forma a anunciar a sua infalível profecia: as alternativas estão mortas e a mercadocracia está aí como uma opção única de delinear o futuro de povos e nações.

Um futuro que logo à partida já existiu e que afinal já nao é amanhã, mas que parte de uma permissa que jaz moribunda. As finanças comportamentais têm como principal objetivo identificar e compreender as ilusões cognitivas que fazem com que os indivíduos cometam erros sistemáticos de avaliação de valores, probabilidades e riscos. A eficiência de mercado cinge-se apenas por um dos três mecanismos básicos de mudanças evolutivas – o fluxo gênico. Na realidade, o fluxo gênico é uma medida da fertilização ou estabelecimento de indivíduos férteis em razão da distância percorrida da fonte até o local onde a dispersão ocorreu. Quando um indivíduo migra de uma população para outra, ele carrega genes que são característicos da sua população ancestral para a população recipiente. Em caso de sucesso ele irá transmitir esses genes entre as populações e sendo esta a normativa, a manter-se tamanha obsessão, existe a possibilidade de originar poluição gênica, que seria uma dispersão descontrolada de genes.

A fantasia torna-se realidade e tudo vale para que nos mantenham neste estado comatoso de humanoídes condicionados, visando apenas e só aumentar a escala de produção. As finanças comportamentais identificaram que existem características humanas que limitam o processo de aprendizagem, tais como a dissonância cognitiva, o excesso de confiança, as discrepâncias entre atitude e comportamento, o conservadorismo, o arrependimento e a ilusão do conhecimento.

Superávite! Superávite! Superávite! grita sofregamente a impiedosa balança comercial e impera assim o inevitável regresso ao repugnante feudalismo.

O flagelo chamado capitalismo.

Estamos a testemunhar a transição de um estado de bem-estar social para um estado de controle social. Em Portugal existe uma mistura entre controlo social e auto-controlo social do Povo. Não gostamos de mudar… apesar de sermos da opinião que algo deveria mudar.

Portugal, o país dos não-actos. O país que se orgulha do nada e crítica tudo.

A desregulamentação dos mercados financeiros ou do aumento da desigualdade social são coisa que não interessam…e o autoritarismo crescente de quem nos governa? Eu cá não percebo nada de politíca. Mas isto tem de ir para a frente, nem que isso implique andar ás arrecuas, rumo a uma cleptocracia em que a saúde e educação passam a ser um luxo apenas acessível para alguns; em que a liberdade de expressão e o diálogo são uma contrariedade enfadonha com o condão inaceitável de empatar a execução do roubo; em que as eleições sao apenas um veículo da instabilidade e do medo do incerto devendo portanto ser evitadas a todo o custo e finalmente em que a perda de soberania é um mal necessário para a perpetuação duma existência medíocre.

A mercadocracia ja está aí !

Implementada por um golpe de estado mascarado de decreto presidencial e em forma de apelo à salvação nacional!

A contra-revolução foi afinal televisionada, mas ainda assim ninguém a viu.